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No caminho da luz, todo mundo é Preto

Música rap como uma maneira de resgatar a negritude e denunciar o racismo estrutural

Sthefany Rocha

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Com origem em ritmos jamaicanos dos anos 60, a música rap começou a se espalhar pelas periferias dos Estados Unidos em 1970, principalmente nos bairros mais pobres de Nova York, habitados por maioria negra. No Brasil, o novo estilo se popularizou no final dos anos 80 e, em 1990, os primeiros grupos e Mestres de Cerimônia (MCs) ganharam destaque na cena musical do país, como Racionais Mc’s, Detentos do Rap, Câmbio Negro, Planet Hemp e vários outros. 

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O estilo é marcado por letras que expõem e denunciam a violência policial, o genocídio negro, o racismo e as desigualdades sociais. Em um país como o Brasil, marcado pela forte assimetria social, que tem raízes profundas nos mais de quinhentos anos de escravidão, marginalização e abondono do Estado, a música rap é constantemente associada à crimilaridade. Contudo, as músicas trazem novas maneiras de pensar o mundo. 

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As letras das músicas rap trazem uma perspectiva diferente da realidade, uma vez que majoritariamente é produzida pela população que é marginalizada, e provocam reflexão de pensar num outro mundo possível. Um futuro com igualdade, equidade, sem racismo e que os direitos constitucionais sejam respeitados.

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No caminho da luz, todo mundo é Preto?

Sim. A frase é da música Principia do álbum AmarElo, do rapper Emicida, lançado em 2019. "Quer mil volta descarga de tanta luta/ Adaga que rasga com força bruta/ Deus, por que a vida é tão amarga?/ Na terra que é casa da cana-de-açúcar/ E essa sobrecarga fruto gueto/ Embarga e assusta seu suspeito/ Recarga que é igual a Jesus/No caminho da luz, todo mundo é preto" Emicida, AmarElo, 2019.

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Apesar de escancarar as dores e as mazelas vividas pela população preta, que enfrenta diariamente a fome, o genocídio de sua juventude, a desvaloirzação de sua epistemologia e cosmovisões, o álbum também traz valores essenciais para se pensar uma outra forma de estar no mundo: os principais são o Amor e o Elo. A união de todos por uma sociedade melhor. As músicas fazem referências à ancestralidade, religiosidade, infância, afeto, ascensão e liberdade. 

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A luz seria o fim, a sociedade perfeita e igualitária, e para se alcançar o progresso, a união de todos sem nenhuma distinção de cor, gênero ou classe é essencial. Emicida provoca com cada música presente no álbum AmarElo, a serenidade e seriedade de cada tema abordado é revolucionário  

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