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DURANTE FEIRA AGROECOLÓGICA NA UnB, PRODUTORES DESTACAM A IMPORTÂNCIA DE INCENTIVAR A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E LIVRE DE VENENOS

Por Bianca Feifel e Sthefany Rocha

 

Feirinha agroecológica, organizada pelo Núcleo de Estudos Agroecológicos da UnB, reuniu pesquisadores e produtores familiares da área que apontaram a importância do papel das instituições públicas na produção e compra de alimentos orgânicos. 

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Produtos agroecológicos produzidos por agricultores da CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura) Flor de Lótus. Foto: Bianca Feifel e Sthefany Rocha

Na manhã desta quarta-feira, dia 14, aconteceu, no campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, a feirinha agroecológica organizada pelo Núcleo de Estudos Agroecológicos da UnB (NEA/UnB). O encontro contou com a participação de agricultores familiares, lideranças de movimentos sociais e acadêmicos. A roda de conversa, que ocorreu a partir das 11 horas, focou na necessidade de incentivar a produção de alimentos saudáveis e sustentáveis, por meio, por exemplo, da compra institucional desses produtos. 

 

Uma das reivindicações dos agricultores e acadêmicos presentes na feirinha é de que haja um aumento da compra de produções agroecológicas por parte das instituições públicas, como escolas, hospitais, universidades e o exército, o que representaria um grande incentivo para os pequenos produtores. Segundo Mario Lucio de Avila, professor em gestão e sustentabilidade do campus de Planaltina, o que falta para que os agricultores familiares tenham incentivo e crédito para produzir é “organizar a demanda, e a Universidade é parte dessa estrutura, não dá para ficar de fora”. 

 

De acordo com dados fornecidos pela Direção do Restaurante Universitário (DRU) da Universidade de Brasília, em 2019, foram servidos mais de um milhão de almoços, quase 400 mil jantares e mais de 300 mil cafés da manhã, totalizando 1.823.850 refeições. “De acordo com a legislação, 30% dos alimentos usados nessas refeições deveriam ser comprados da agricultura familiar, o que representa aproximadamente 500 mil refeições ao ano. Simples assim. Mas a UnB não compra nada”, apontou Mario Lucio. 

 

A legislação a qual o professor se refere é a lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, que define as diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). De acordo com esta norma, no mínimo 30% dos recursos financeiros repassados, no âmbito da PNAE, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) aos estados, municípios e Distrito Federal devem ser utilizados na aquisição de alimentos diretamente da agricultura familiar, dando prioridade para os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. “Se a gente não incomodar, a Universidade fica acomodada. E quem tem que incomodar é quem come no RU todos os dias!”, enfatizou o professor. 

 

Segundo Flavão Cerratense, agricultor agroflorestal de Brazlândia, a falta de demanda afeta a disponibilidade desses alimentos, produzidos pela agricultura familiar, dentro dos supermercados e, consequentemente, provoca o aumento dos preços. “O que faz o alimento orgânico ficar caro é a lei da oferta e da procura. Não está tendo demanda dentro do PNAE e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para a gente produzir alimentos livres de veneno'', afirmou Flavão.

A agroecologia, tema central da discussão, é um modo de produção agrícola que busca garantir a saúde e o equilíbrio de todo o sistema biológico, aqui inclusos os seres humanos e a natureza. Para tanto, as práticas agroecológicas produzem alimentos saudáveis, por meio da policultura e sem uso de agrotóxicos, e sustentáveis, ou seja, utilizando processos que não degradam o meio ambiente. Além disso, há o compromisso de que essas técnicas de produção respeitem a cultura e os modos de vida das populações

De acordo com Flaviane Canavesi, professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB e coordenadora do NEA/UnB, responsável pela mediação da roda de conversa, a agricultura familiar é “um conjunto de modos de vida, dos quais muitos desenvolvem experiências agroecológicas, como a não utilização de agrotóxicos nem sementes transgênicas e o cultivo de sementes crioulas. É essa agricultura que resistiu à modernização, que alimenta grande parte da população brasileira. A base da nossa alimentação não é a soja, mas é a alface, o arroz, o feijão, a abóbora, o tomate, a batata, que são bases de produção da agricultura familiar”. 

 

Quitéria, agricultora do assentamento Aprospera, localizado em Planaltina, reitera que a agroecologia proporciona diversidade e vida. “Além dela nos alimentar e levar para outras pessoas nutrição de verdade, a gente leva saúde e amor nos nossos alimentos, e conseguimos ter uma diversidade na nossa propriedade de animais, alimentos e árvores. Então, para mim, a agroecologia é vida”, afirmou.

 

O Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 77% dos estabelecimentos agrícolas no Brasil são de agricultura familiar. Embora correspondam a apenas 23% da área total de agricultura, já que as grandes agroindústrias concentram a maioria das terras, as propriedades de agricultores familiares produzem a maior parte dos alimentos que, de fato, chegam à mesa dos brasileiros. Conforme o censo, esse grupo de produtores é responsável por produzir, nas culturas permanentes, 48% do café e da banana, e, nas culturas temporárias, 80% da mandioca, 69% do abacaxi e 42% da produção de feijão.

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